Crítica: Imaculada


Com o impulso da própria Sidney Sweeney para sair do papel, “Imaculada” (Immaculate) demorou alguns anos para finalmente se concretizar, porém, a espera valeu a pena.

Apesar de se pautar em vários clichês do gênero para construir seu início, a nova empreitada de Sweeney se mostra uma produção com um teor critico muito contundente e bem construído, utilizando o terror e o imaginário do catolicismo para tecer comentários pertinentes sobre como o corpo da mulher é objetificado, tanto por instituições religiosas, quanto pela própria ciência.

Com a direção de Michael Mohan, no longa acompanhamos a jornada de Cecília (Sydney Sweeney), uma jovem norte-americana que, buscando seguir sua vocação,  torna-se freira e se muda para um misterioso convento na região rural da Itália

Após sua cerimônia ordenação, a jovem aparece misteriosamente grávida, o que leva todos no convento a acreditar que Cecília carrega em seu ventre o Salvador, tal qual a Virgem Maria. Contudo, um mistério se esconde nesse convento e, quanto mais Cecília se aproxima da verdade, mais controle os religiosos exercem sobre sua rotina e mais sua liberdade é ceifada.

Com claras inspirações de clássicos do terror como “O Bebê de Rosemary” e “Suspiria”, o trailer e os primeiros minutos de “Imaculada” enganam bem os espectadores, já que tudo leva a crer que veremos mais uma obra sobre conventos sinistros em meio a mistérios sobrenaturais.

Mas, a obra esconde seu ouro até o final do segundo ato, quando apresenta seu plot twist de forma inteligente, fazendo com que todas as pistas entregues pelo roteiro de Andrew Lobel durante toda a narrativa finalmente se condensem em uma resolução lógica, que descontroem os clichês apresentados no início e nos entregam uma saída criativa.

Um dos elementos que segura o longa em seu começo arrastado é a atuação de Sidney Sweeney. A jovem atriz se destaca entregando exatamente aquilo que a trama pede, mostrando diferentes nuances de sentimentos e intensidades.

Uma entrega cênica desse porte não costuma aparecer em longas de terror e essa desenvoltura de fato se destaca em meio a tantas películas que se pautam em sustos previsíveis, ao invés de histórias cativantes ou atuações notáveis.

A crítica proposta também é bem inserida, por meio de algo aparentemente previsível, vemos, através de metáforas, todo o horror a que uma mulher pode ser submetida contra sua vontade por instituições religiosas.

Há alegorias a romanização do sofrimento feminino, a pressão social pela gravidez, a glamorização das mazelas do período de gestação, a violência obstétrica, entre várias outras discussões expostas em representações exageradas (algumas nem tanto) que um título do gênero demanda.

Assim como toda obra de arte carrega em si elementos do período no qual foi concebida, “Imaculada” traz discussões necessárias e alarmantes em meio a uma narrativa de terror surpreendente.

Porém, aqueles mais sensíveis a temas religiosos ou seus dogmas, provavelmente se incomodarão com a forma como um tema tão sensível quanto a maternidade é explorado e criticado.

Se o propósito de um filme de terror é provocar incômodo de desconforto, então “Imaculada” faz isso com louvor.

por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.