Crítica: Homem com H

“Homem com H” é menos sobre contar uma história linear e mais sobre provocar sensações. O título do longa é homônimo ao da música que catapultou a carreira solo de Ney Matogrosso, após a saída da Banda Secos & Molhados.

A faixa foi escrita por Antônio Barros, depois que ouviu uma frase na novela “O Bem Amado”, de Dias Gomes, dita por Paulo Gracindo “Nunca vi rastro de cobra, nem couro de lobisomem!”. Isso não é spoiler, está em um documentário sobre esta música.

Assistir ao filme em primeira mão, numa Cabine de Imprensa, foi uma experiência que continua ecoando dias depois. A figura de Ney Matogrosso, interpretada com entrega e intensidade por Jesuíta Barbosa, pulsa em cada cena — não como uma simples biografia, mas como um mergulho sensorial em sua essência.

Há momentos belíssimos, outros que nos tiram do eixo, mas todos parecem vivos. A relação com o pai, Antônio (Rômulo Braga), marcada por silêncios e ausências, atravessa a obra como uma ferida exposta, que ajuda a compreender muito do homem que Ney se tornou — livre, inquieto, indomável.

Alguns cantores, interpretados por atores, como Cazuza (papel de Jullio Reis), aparecem na produção. Muitos amores também fazem parte. Assistir a “Homem com H”, é despir-se de pudor e conseguir enxergar o ser antes do artista.

A montagem fragmentada pode causar estranhamento, sim, mas é justamente essa recusa em ser didático que torna o longa tão cativante. Tivemos a oportunidade de participar de uma Coletiva de Imprensa com o Roterista / Diretor Esmir Filho, o protagonista Jesuíta Barbosa e o próprio Ney Matogrosso, que aos 83 anos esbanja vitalidade e lucidez, e tal qual sua cinebiografia, ele também não se explica — apenas se sente. E o que se sente, neste caso, é arte viva.

por Carlos Alberto Quintino – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Paris Filmes.