Crítica: Hellboy e o Homem Torto


Mesmo sendo um personagem dos quadrinhos norte-americanos fora do eixo Marvel e DC, Hellboy conseguiu furar a bolha do mercado independente e chamar a atenção de Hollywood, tanto que o demônio de chifres serrados já teve três encarnações na tela grande, sendo as duas primeiras dirigidas pelo aclamado diretor Guilhermo Del Toro.

Porém, após o fracasso do filme de 2019 protagonizado por David Harbour, o personagem perdeu muito de sua credibilidade perante os estúdios, obrigando os idealizadores de “Hellboy e o Homem Torto” (Hellboy: The Crooked Man) a tirarem leite de pedra com um orçamento modesto de 20 milhões de dólares. A boa noticia é que tal empreitada foi bem conduzida.

Protagonizado por Jack Kesy, “Hellboy e o Homem Torto” tem o roteiro do próprio criador dos personagens Mike Mignola (ao lado de Brian Taylor e do também diretor Brian Taylor), que agora trazem à vida uma trama muito mais próxima dos quadrinhos do que as encarnações anteriores do personagem para a tela grande.

Após cair acidentalmente em uma vila isolada nas montanhas Apalaches, Hellboy junto à novata Bobbie Jo Song (Adeline Rudolph) se vê em meio a uma comunidade fortemente influenciada por bruxas lideradas por uma entidade demoníaca conhecida como Homem Torto (interpretado por Martin Bassindale).

Agora, cabe ao Vermelho, junto à sua parceira, sobreviver em meio a esse ambiente hostil, enquanto buscam uma forma de entrar em contato com sua agência e voltar para casa.

Com uma narrativa que bebe muito no horror Folk, a obra compensa sua precariedade de efeitos especiais com um roteiro coeso, que não se envergonha em se apropriar da estética e direção das produções denominadas pela mídia como pós-terror, e inserir Hellboy como elemento destoante em meio a essa estética contemporânea.

A ambientação é modesta, mantendo-se em cabanas antigas e cenários abertos como florestas, porém os cenários se encaixam perfeitamente na proposta, assim como a maquiagem. Apesar de não terem o mesmo acabamento das produções anteriores, conseguem traduzir bem o personagem para a tela e manter suas expressões faciais, de modo a não prejudicar sua atuação.

Nem tudo são flores na película: algumas cenas que, invariavelmente, utilizam computação gráfica, não sustentam sua veracidade por muito tempo, ainda mais quando são submetidas à luz do dia.

Em momentos pontuais, também há uma queda de ritmo, em especial nos momentos de transição entre os arcos principais da trama. Não é nada que estrague a experiência, porém, claramente a edição se esquece de que não é de fato um longa de pós-terror.

“Hellboy e o Homem Torto” pode não ter o mesmo apelo visual que seus antecessores, mas prova que um roteiro bem construído, criatividade em sua composição e fidelidade ao tom da obra original, são suficientes para fazer frente a adaptações pouco inspiradas com um orçamento exorbitante.

Muito já foi discutido que a dificuldade caminha junto à criatividade, e esse filme comprova tal afirmação. Que mais personagens de quadrinhos fora das gigantes Marvel e DC tenham a oportunidade de ganhar seus longas com o mesmo esmero e carinho que “Hellboy e o Homem Torto” apresentou.

por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Imagem Filmes.