Crítica: Era Uma Vez Um Gênio


Sabe aquela sensação de se sentir maravilhado quando se é criança, quando descobre algo novo, assustador, magnífico, surpreendente? “Era Uma Vez um Gênio” (Three Thousand Years of Louging) consegue captar e transmitir esta mensagem de forma excitante com um sorriso infantil, e ao mesmo tempo traz uma visão complexa de um dos temas mais explorados nas fábulas: O que você faria se tivesse três desejos?

Não há limitações acerca do roteiro, que trabalha em uma forma de metalinguagem a visão de de um contador de histórias, que estuda, e que vive uma aventura, sabendo quais os desfechos comuns das mais diversas narrativas, e ainda assim, consegue trazer algo novo.

O filme traz o recurso de capítulos, bem lúdico, e faz com o que o narrador cada vez mais se depare com o ponto em que Alithea Binnie, uma das nossas protagonistas, encenada de maneira maravilhosa por Tilda Swinton, entre seus trabalhos sobre as histórias da humanidade se depare com um Gênio, interpretado por Idris Elba.

Em meio a idas e vindas históricas, um tom de terceira pessoa com direito a narrador em alguns momentos, e uma imagem e contextualização cenográfica histórica bem trabalhada, a trama te faz sentir como se estivesse, de fato, em uma história infantil de início, mas a história vai te agarrando lentamente, como se fosse o toque aveludado, almiscarado e que faz todos se arrepiarem do gênio, ou mesmo a perspicácia de Alithea.

A trama te envolve, traz sensações sinestésicas de calor, de toque, de cheiro – coisa que o diretor George Muller faz com um talento sem igual, muito diferente da paleta de cores dinâmica de “Alladin”, por exemplo, e mesmo assim, fiel a seu contexto.

Com tudo isto, é difícil saber o que esperar da produção, que traz uma mistura de conto de fábulas, reescritos de maneira diferente, mas com uma ligação forte com a História (com H maiúsculo), do estudo do passado e como os momentos são construídos e transmitidos às  futuras gerações, com desenvolvimentos novos sendo criados pela própria trama, assim como novos capítulos que escrevemos diariamente.

A trilha sonora se equipara ao trabalho desenvolvido por Idris Elba, e também é aveludada, intimista, sutil, mas marca sua presença. Talvez o que deixe mais marcante o filme seja a contrastante diferença entre os protagonistas: a sensação de dois pontos polares distintos decorrendo durante a trama de maneira sutil é uma ótima.

E a conclusão consegue te deixar com a sensação de que foi uma grande experiência, apesar de imaginar que o final da história consegue ser uma contradição em si, tanto um final feliz como inesperado, fazendo-se julgar como a relação entre personagens se desenvolve.

Cabe ainda comentar como é abordada a questão de solidão e relacionamentos, através do tempo e da concepção de como cada pessoa reage ao amor que lhe é ofertado, com atuações imponentes como a da atriz Aamito Lagum, e em outros momentos delirantes como a de Ece Yuksel, e de tantos outros atores escolhidos a dedo.

De toda forma e estilos diferentes, as relações se perpetuam durante o filme e se tornam a lição de moral da fábula que “Era Uma Vez Um Gênio” se torna.

por João Victor Baracho – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Paris Filmes.