Crítica – Drácula: A Última Viagem do Demeter


Deméter é a deusa grega do cultivo e da primavera, contudo, ela também possui uma face sombria. Ela é quem traz o inverno para o mundo enquanto sua filha, Perséfone, comanda o mundo dos mortos.

Tal dualidade torna perfeita a escolha de nome, feita por Bram Stoker há mais de um século, para o navio que transporta Drácula para a Inglaterra, no seu romance.

Em “Drácula: A Última Viagem do Demeter” (The Last Voyage of the Demeter), Doutor Clemens (Corey Hawkins), tentando achar um emprego como médico, é contratado para compor a tripulação do navio. Porém, o que parecia um novo começo torna-se uma batalha pela sobrevivência e pela sanidade.

A caracterização de cenário e figurinos, reforçado pela atuação e montagem, gera um ambiente de suspense gótico desde a primeira cena. Mas, o longa dirigido por André Øvredal toma quase metade de seu tempo apenas nessa apresentação, algo acentuado pelo alto grau de previsibilidade pra quem viu qualquer filme do Drácula, até o momento que os tripulantes percebem a natureza sobrenatural da ameaça.

A partir daí, realmente a narrativa se dinamiza, virando uma busca com tensão crescente de cada membro do navio para se proteger e não enlouquecer perante as tragédias crescentes que vão de abatendo.

Em relação aos personagens, os que realmente têm um desenvolvimento aprofundado são o médico Clemens, o capitão Elliot (Liam Cunningham) e o cozinheiro Joseph (Jon Jon Briones), com os demais sendo caracterizados a partir do trio, com quem vamos afeiçoando ao longo da trama.

O médico pode ser visto como protótipo do Van Helsing, o famoso caçador de vampiros do livro original, porém, sem o conhecimento sobrenatural, fazendo com que cada interação com o Drácula, direta ou indireta, torne-se um traumático processo de aprendizado sobre seus poderes e fraquezas, o que dá um sabor extra para a produção, ao invés de usar a solução clássica de um especialista que surge do nada sobre o assunto.

Por fim, o Drácula criado para a adaptação cinematográfica (interpretado por Javier Botet) combina elementos de diversos filmes, inclusive “Nosferatu”, com o livro clássico para criar um vilão reconhecível, mas próprio e aterrorizante.

Fica minha recomendação de “Drácula: A Última Viagem do Demeter” para os fãs de terror de épico e vampiros, que desejam sair do lado sensual dessas criaturas e mergulhar na sua face como predadores noturnos.

por Luiz Cecanecchia – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.