Crítica: Decisão de Partir


Um experiente detetive é designado para investigar um caso de suicídio (mas que acaba ganhando contornos que enveredam para o assassinato) e se apaixonada pela principal suspeita – a viúva da vítima em questão.

Esta pode não ser a sinopse mais original do mundo, mas o grande trunfo de “Decisão de Partir” (Heojil kyolshim / Decision to Leave) é, justamente, pegar elementos muito utilizados em produções anteriores e inseri-los em uma trama intrigante o suficiente para prender a atenção, inclusive daqueles que julgam já ter visto algo parecido em outras ocasiões.

Dirigido por Park Chan-wook (que escreve o roteiro junto a Chung Seo-kyung), o longa sul coreano chega aos cinemas brasileiros trazendo na bagagem vários prêmios – incluindo o de Melhor Direção no Festival de Cannes, além da indicação a Melhor Filme de Língua Não-Inglesa no Globo de Ouro e de seguir na lista de pré-candidatos a Melhor Filme Internacional do Oscar.

A trama, passada na cidade sul coreana de Busan, gira em torno do trabalho de investigação de Jang Hae-joon (Park Hae-il), detetive cuja procura pelo bom desempenho profissional beira a obsessão, o que o leva a buscar de maneira quase condenável, alguma pista que mostre o que de fato aconteceu para culminar na morte do milionário Ki Do-soo (Seung –mok Yoo) – além dos óbvios ferimentos causados pela queda de uma montanha, enquanto praticava escalada.

Marcado por uma total indiferença (e até mesmo uma suposta demonstração de alívio), o interrogatório com a viúva da vítima – a cuidadora de idosos, Song Seo-rae (Tang Wei) – faz com que ela passe a ser considerada suspeita, uma vez que há pequenos detalhes que podem contribuir para que o caso deixe de ser visto como a opção de alguém por tirar a própria vida, para tornar-se um crime.

Saber até que ponto essas suposições têm um fundo de verdade é a missão do dedicado detetive. O problema é que desde o começo, fica bem claro o quanto ele se deixa abalar pela mulher chinesa misteriosa, que transita com a mesma facilidade entre a figura da mais pura inocência e a melhor representação de alguém que não tem nada a perder (ou temer). Fica o elogio às interpretações de Park Hae-il e Tang Wei, que colaboram – e muito – para a geração de interesse por parte dos espectadores.

Ao intercalar de modo impecável recursos típicos de filmes policiais / investigativos a outros mais comuns em produções de tratam sobre amores proibidos, a obra conta uma história que permanece relevante do início ao fim, em uma crescente de acontecimentos que fazem com que tantos nossas dúvidas quanto nossas certezas sejam colocadas à prova, após cada mínima revelação.

Com uma duração que pode parecer excessiva à primeira vista – 139 minutos – “Decisão de Partir” consegue ser cativante o suficiente para que não vejamos o tempo passar. Ao não recorrer ao explícito, na ânsia de conquistar a plateia, o drama policial entrega um resultado que, dentro de várias provocações e sugestões levantadas em diversas sequências, cumpre o trabalho de levar o público para dentro da narrativa com facilidade e competência que merecem ser exaltadas em todos os sentidos.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.