Crítica: Coringa


Chega aos cinemas o tão esperado drama comportamental e psicológico da Warner Bros. que promete abalar as estruturas cinematográficas de filmes inspirados em personagens de HQ´s. Estou falando de Coringa (Joker) que reflete o quão sombria pode ser a alma humana.

Serei sincero: após assistir à exibição do longa para a imprensa, saí totalmente aturdido, desorientado e sem ação. Não pelo motivo do filme ser ruim, muito longe disso, mas por ser tão extraordinário, uma verdadeira obra prima. São tantas reviravoltas, sentimentos contraditórios, cenas fortes e envolventes que ficamos em um estado de tensão a produção toda. Nunca se sabe o que acontecerá na próxima cena e qual será a reação de Coringa (Joaquin Phoenix) na tela.

Claro que podem dizer que isso é o que devemos esperar de um filme, mas sejamos sinceros: a maioria das produções acaba sendo meio que previsível em seus enredos e por este motivo Coringa é fenomenal, pois não há como nós, “meros mortais”, antevermos qualquer desfecho.

Não há efeitos especiais complexos feitos por computador, é o tradicional longa que se sustenta com ótimo roteiro e atuações excepcionais. Aliás, Phoenix rouba todas as cenas e os demais atores e atrizes são meros espectadores da narrativa que se desenrola magistralmente na construção da personagem que é marcada por injustiças e loucuras.

Somos apresentados a Arthur Fleck, um homem comum tentando lutar contra as adversidades de uma grande cidade e a indiferença de sua população para com os menos favorecidos. Ele trabalha como palhaço de propaganda de rua durante o dia e tenta a sorte como comediante em casas de stand-up à noite, mas sua vida é a verdadeira piada e se vê preso em uma relação doentia e nociva com as pessoas a sua volta. E revelações podem gerar a perda de controle fatal em sua personalidade.

O diretor Todd Phillips criou uma história nunca antes contada sobre a origem do pior vilão da galeria dos quadrinhos – antes que alguém diga que existem outros vilões tão perversos, é importante lembrar que o Coringa é apenas uma pessoa, sem poderes especiais ou equipamentos fantásticos. Ele possui “apenas”a sua loucura como arma e isso é mais assustador do que qualquer outra coisa.

Coringa não é para crianças, então fica o aviso. É um filme adulto, com cenas fortes e violentas. E só para fazer um comentário: fujam das criticas ou resenhas negativas que dizem que o filme é “tóxico”. Tóxica é a opinião infundada e sem argumentos de algumas pessoas que não entenderam a trama. Violência por violência, vemos isso muito mais aberta e friamente nos noticiários diários de nossa vida real.

O retrato exposto na produção é apenas um reflexo de como nossa sociedade está no momento atual, as pessoas é que tendem a cometer atos ilícitos e agressivos e não um filme ou videogame. Tentemos ver a realidade como ela é e parar de jogar a culpa no mundo ficcional.

Este filme vai abalar seus nervos, mas de uma forma a mostrar que somos bombardeados todos os dias por problemas criados pela sociedade e que ficamos no meio dessa máquina esmagadora que é a cidade grande. Coringa representa uma vítima do sistema criado para nos manter seguros, mas que acaba mantendo em sua margem alguns cidadãos que não conseguem seguir suas regras.

Spoilers não devem ser vistos, ouvidos ou lidos, pois estragarão todos os momentos importantes. Mesmo que você diga que não se importa em saber antecipadamente, sugiro que não faça isso, assim poderá aproveitar a maravilhosa experiência que é assistir ao nascimento do Príncipe Palhaço do Crime. Preste atenção em cada detalhe, pois existem citações e surpresas escondidas que serão comemoradas pelos fãs de quadrinhos.

Quero aproveitar para dedicar esta crítica ao meu saudoso amigo Rubens Ewald Filho, que nos deixou este ano após um acidente fatal, pois tenho certeza que adoraria este filme de origem.

Vá ao cinema e deixe-se levar pela loucura cinematográfica de Coringa.

por Clóvis Furlanetto – Editor Palhaço