Crítica: Brinquedo Assassino


Quando assisti ao filme ”Annabelle”, lançado em 2014, me lembro dos risos involuntários e nervosos da plateia quando a personagem principal, ao ver a boneca do título com a sua indefectível carranca assustadora exclama: “Como ela é linda!”. No longa “Brinquedo Assassino”, dirigido por Lars Klevberg, estrelado por Aubrey Plaza (a inesquecível April Ludgate da série “Parks and Recreation”),  Gabriel Bateman (que também atuou em “Annabelle”) e com a voz de Mark Hamill (o boneco Chucky) que estreia nesta semana, vi a mesma situação se repetir: no início da exibição, ao apresentar uma propaganda do boneco Buddi, um brinquedo tecnologicamente avançado, cujo principal objetivo é se tornar uma companhia quase real para as crianças, e que  possui um rosto nada amigável (leia-se assustador), uma criança é presentada com o brinquedo e exclama: “Como ele é lindo!”.

Com risos involuntários, nervosos ou não, a produção aposta no humor, sobretudo no humor negro (vide as Gags envolvendo uma cabeça decepada embrulhada para presente), e acerta nisso sem perder o tom. Porém erra no principal: o terror. O filme falha em assustar, causar medo ou gerar  um clima de tensão suficiente para fazer jus ao legado que o já famoso boneco Chucky deixou para gerações.

Refilmagem de um título que se tornou um cult nos anos 1980 (e que gerou seis continuações) “Brinquedo Assassino” aposta na tecnologia como arma para o boneco Chucky: se no primeiro filme o boneco era possuído pelo espírito de um assassino que, para voltar à vida precisava do corpo de uma criança e assassinava a todos que cruzassem o seu caminho, nesta nova versão, a tecnologia do brinquedo é sabotada por um funcionário descontente da empresa fabricante do mesmo, fazendo o boneco adquirir comportamento violento, ciumento e protetor.

Com a habilidade de controlar tudo o que se conecta a internet (tornando o personagem uma espécie de Ultron infantil), Chucky trata de usar a tecnologia para atacar a todos que atravessam o caminho do seu dono. E essa motivação é o maior problema do roteiro, uma vez que os atos e ações do boneco são baseados apenas no ciúme que sente do garoto Andy.

Com a dublagem mal aproveitada de Mark Hamill repetindo pequenas frases em tom robótico e usando de efeitos especiais fracos nas expressões e no rosto do boneco em si, o filme falha em criar um clima de tensão (como fez muito bem o já citado “Annabelle”) e até o que poderia ter um grande trunfo – o uso da tecnologia – mas acaba não sendo aproveitado de forma inteligente (Chucky controla Drones, mas o faz apenas para atacar pessoas dentro de uma loja. Poxa!).

Além disso, conta com sequências muito mal explicadas – como do funcionário descontente da empresa de brinquedos – e também sobre os motivos de o boneco perder o controle totalmente e assassinar pessoas que não apresentavam nenhum perigo ou obstáculo aparente a ele e ao seu dono.

O filme não faz jus a sua versão original, porém, é uma apresentação válida do famoso boneco Chucky para as novas gerações. É divertido e nos faz rir, de nervoso.

por Jean Markus – especial para CFNotícias