Crítica: Amigos para Sempre
O quão profundamente uma amizade pode afetar nossas vidas? Essa talvez seja uma das perguntas que mais respostas pode gerar e, ainda assim, é provável que nunca cheguemos a uma conclusão definitiva.
A história de “Amigos para Sempre” (Storm Boy), longa que está disponível no Cinema Virtual nos é contada, basicamente, através das memórias de Michael Kingley (Geoffrey Rush), um rico empresário que, após a morte de sua filha, tenta salvar o relacionamento de sua neta Madeline (Morgan Davies) com o próprio pai Malcolm (Erik Thomson) – que usa o trabalho excessivo como justificativa para o distanciamento familiar.
Intercalando cenas dos dias atuais a flashbacks da infância de Michael (nessa fase, vivido por Finn Little), a narrativa consegue manter-se interessante desde o início, mas o destaque fica mesmo para as sequências formadas por lembranças do protagonista.
Depois da perda repentina de sua mãe e irmã caçula, o jovem Michael muda-se com seu pai Hideaway Tom (Jai Courtney) para uma praia praticamente deserta. A intenção do rapaz é manter seu filho longe de qualquer tristeza que o convívio em sociedade possa causar, ainda que para isso, precise mantê-lo isolado.
Tal plano corre bem, até que o menino encontra um ninho com três filhotes de pelicano (a praia fica próxima a um local repleto dessas aves, que mais tarde se transformará em um santuário), que ficaram órfãos devido à prática ilegal de caça, e decide cuidar deles. Para isso, contará com a providencial ajuda de Fingerbone Bill (Trevor Jamieson), enigmático morador da praia, que será responsável por válidos ensinamentos.
Indo de encontro às probabilidades que indicavam que os filhotes não sobreviveriam, Michael consegue conduzi-los com saúde à vida adulta. Nesse percurso, nasce uma grande amizade entre o garoto e as aves, em especial com a mais frágil delas, a quem o menino nomeia Sr. Percival, assim como o personagem de um de seus livros, “O Senhor das Moscas”.
Após a partida dos outros dois pássaros (Sr. Ponderador e Sr. Orgulhoso), que vão em direção a sua jornada com os demais membros de sua espécie, a dupla terá que enfrentar várias adversidades e precisará mostrar que a amizade verdadeira pode ser encontrada nos locais e momentos mais inesperados.
Vivemos em uma época absurda, em que é necessário assinar leis para punir aqueles que praticam maus tratos contra animais. Então, para os que não compactuam com tal pensamento repulsivo, é doloroso acompanhar – ainda que na ficção – quem enxerga com normalidade ser a causa da morte de animais que apenas tencionam viver livres em seu habitat natural.
Então, mesmo diante de uma realidade pouco amistosa, é gratificante acompanhar a trajetória dos improváveis amigos e lembrar que para construir uma amizade de verdade, basta ter o coração aberto a possibilidades.
Justin Monjo desenvolveu o roteiro do drama dirigido por Shaw Seet a partir do livro infantil homônimo de Colin Thiele, lançado em 1964. A história, o que tem de simples, tem de sensível e deve comover boa parte dos espectadores.
Vale a pena conferir.
por Angela Debellis
*TÍtulo assistido via streaming
** Texto originalmente publicado no site A Toupeira