Crítica: A Música da Minha Vida


Mais uma biografia musical chega aos cinemas, mas desta vez o biografado não é o músico de sucesso, e sim um adolescente de ascendência paquistanesa que foi diretamente influenciado pelas canções do “Boss” – Bruce Springsteen. O longa é inspirado no livro de memórias “Greetings from Bury Park” de Sarfraz Manzoor, que também é corroteirista da adaptação cinematográfica, feita pela diretora Gurinder Chadha.

“A Música da Minha Vida” (Blinded by the Light) – que pode ser considerado no mínimo inspirador – conta a história de Javed (Viveik Kalra), que nasceu e cresceu em Luton, na Inglaterra.  A trama se passa mais precisamente em 1987, período em que o país vivia uma série de crises de origem financeiras e sociais.

Javed é um garoto sensível, seu sonho é ser escritor e desde os dez anos de idade registra tudo que sente em diários. Apesar de viverem na Europa há muito tempo, seu pai preserva todos os costumes familiares hierárquicos paquistaneses, não dando nenhum poder de escolha à família, o que observado por meio da nossa cultura pode parecer um tanto quanto machista e opressor.

É no ensino médio que Javed começa a enxergar além da própria bolha e entender a vida que desejava para si, e lá também que é apresentado às músicas de Springsteen e que encontra uma incentivadora ao seu talento, Ms. Clay (Hayley Atwell).

A obra é encantadora de muitas maneiras: é o tipo de filme que dá um calorzinho no coração, vemos um adolescente tomando consciência das mais variadas formas de preconceitos que seu povo sofre, em um momento de tensão econômica nacional que atinge diretamente sua família. Há uma apelo muito grande a todo momento para que ele amadureça em meio a todas essas adversidades.

Em contrapartida, esse mesmo garoto que aos 17 anos sente a pressão de seu pai decidir seu futuro, que nunca viveu um romance, não pode agir como os demais adolescentes que conhece e que reprime seus sonhos, encontra conforto somente em seus poemas, até encontrar o “Chefe” – sim, Bruce, que indiretamente tem um papel transformador em toda essa história.

Todo figurino é assertivo, temos a extravagância da época o que deixa tudo um tanto quanto nostálgico. Quando Javed coloca pela primeira vez a fita em um “Walkman” e tem seu encontro cósmico com Springsteen, é simplesmente lindo.

A escolha de Kalra para o papel também é outro ponto positivo, ele dá toda ingenuidade que o personagem necessita, consegue de uma maneira até inesperada transmitir emoção, conduzindo o longa por caminhos magníficos.

As músicas são um espetáculo à parte, conseguimos enxergar a cada momento o real significado de cada uma delas para Javed (ou Sarfraz). Musical, romântico, inspirador, divertido, transformador e mais uma infinidade de bons adjetivos, esse é “A Música da Minha Vida”.

por Carla Mendes – especial para CFNotícias