Crítica: “A Filha do Rei do Pântano”
“Não consigo confiar em ninguém, pois, a única pessoa que eu confiava me disseram que era um monstro”.
Um filme que alterna entre o suspense com drama intenso, entre uma produção de psicopata e o faroeste, são boas definições para o “A Filha do rei do Pântano” (The Marsh King’s Daughter), adaptação para cinema do livro do mesmo nome, da escritora americana Karen Dionne, lançado em 2017.
Um exímio caçador mantém sua esposa e filha prisioneiras no pântano por uma década, até elas conseguirem escapar. Anos depois, ele retorna para conseguir sua filha de volta a qualquer custo, para o desespero da garota e de todos aqueles que ela ama.
As cenas iniciais ajudam a estabelecer bem os dois personagens. Ele, Jacob Holbrook (Ben Mendelsohn), é um caçador de percepção e pontaria excepcionais. A filha, Helena Pelletier (Daisy Ridley), treinada habilmente pelo pai em um clima que parece idílico, mas que fica claramente nos limites da capacidade de sobrevivência humana.
Desse modo, através do roteiro de Elle Smith e Mark L. Smith, vemos o quão perigoso e manipulador ele é, assim como as bases dos traumas e do conhecimento de caça da garota.
O drama pessoal de Helena é bem maior do que um assassino atrás dela. Por anos, ela viveu isolada da civilização, inebriada pela visão do mundo do pai, tendo vários problemas para se adaptar ao nosso mundo, assim como o de criar uma identidade própria e construir uma nova família.
Tudo isso sempre agravado pelos conflitos internos gerados pelas boas memórias de momentos com pai no pântano, lembranças que disfarçam momentos horríveis de submissão passados com o pai.
Mas, conforme já mencionei, não estamos falando de uma mulher indefesa, e sim, de alguém com habilidades próximas as do macabro pai, as quais terá que utilizar para caçá-lo. Inclusive, por ser um assassino tão hábil que a polícia mal consegue se aproximar dele, enquanto ele sabe bem como age, culminando em uma verdadeira caçada humana entre pai e filha.
Dirigida por Neil Burger, a obra me fez lembrar das adaptações de “Zaroff, o Caçador de Vidas”, obra base da maioria das produções de caçada humana ao longo do século 20, quase como se fizesse a pergunta “como seria se Zaroff tivesse uma filha”. E entra em um período perfeito no cinema já que um dos principais personagens inspirados no insano nobre russo é o caçador Kraven, com seu filme anunciado para breve.
“A Filha do Rei do Pântano” é uma excelente para quem gosta de filmes de suspense e perseguição com excelente construção de clima e de personagens.
por Luiz Cecanecchia
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.