Crítica: A Filha do Pescador


Será que a falta de informação pode falar mais alto do que o amor de pai para filho? Será que mágoas e feridas abertas há longos anos pode falar mais alto do que o amor de filho para com o pai? Será que regras criadas pela sociedade, baseadas em infinitas razões, podem falar mais alto que o amor, independentemente de qual seja a forma de amar?

Essas são os questionamentos principais que “A Filha do Pescador” (La Estrategia del Mero) traz ao espectador. A obra aborda a relação entre pai e filho que vivem em uma pequena ilha caribenha. Samuel (Roamir Pineda) conhecido como guardião do mar, pratica pesca, atividade essa que está quase a extinguir-se na região, e enfrenta seus dramas internos após a separação da sua esposa e de seu filho Samuelito, que já não o vê há 15 anos.

Samuelito, agora uma mulher trans, com o nome de Priscila (Nathalia Rincón) retorna à procura do pai, após ter cometido um crime para sobreviver aos ataques diários que sofria devido à sua orientação sexual, esse é o contexto geral.

Fato é que toda mudança exige uma coragem que tem que ser renovada e reafirmada diariamente. A condição de Samuelito não o permitia sentir fraqueza sequer por um dia (qualquer semelhança com a vida real NÃO é mera coincidência). Quantas histórias iguais não existem por esse mundo afora?

O drama escrito e dirigido por Edgar Alberto Deluque Jacome traz muitos questionamentos referentes a acontecimentos e questões enfrentadas pela comunidade LGBTQIAP+, desde a solidão, abandono ou não aceitação familiar, ser forte mesmo quando se está fraco… tudo isso fica explícito e se existe uma força maior capaz se vencer qualquer obstáculo, essa força se chama amor.

Amor esse que fez um pai passar por cima do que ele considera certo – dentro de seu pouquíssimo acesso à informação – e tendo bases familiares com conceitos muito arcaicos.  Amor esse que fez um filho quebrar um ciclo de mágoas, ressentimentos e abandono emocional quando viu seu pai necessitado de ajuda.

O final de “A Filha do Pescador” deixa algo muito claro: somos seres adaptáveis e sim, aprendemos a amar. O amor sempre está dentro de nós, basta que nós o exercitemos, seja através da empatia, do respeito, do cuidado, do gesto, do abraço…

Existem infinitas formas de um pai amar um filho, de um amigo amar outro amigo, de um líder amar um liderado, de um casal se amar, mas filme deixa claro que esse sentimento tem que ser construído para que todas as pessoas envolvidas estejam livres, confortáveis e felizes.

por Leandro Conceição – especial para CFNotícias

*Titulo assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Bretz Filmes.