Crítica: A Filha do Palhaço


Passados quatorze anos, pai e filha se reencontram para passarem uma semana juntos. São dois estranhos. Ele a viu bebê. E por um entendimento e aceitação homossexual, se envolveu e se apaixonou por outro homem, pondo fim ao casamento com mãe de sua filha.

A mãe se revoltou, numa mistura de preconceito, ciúmes e raiva, castigou a relação pai e filha, afastando a menina dele, e contando-lhe, no decorrer de seus quatorze anos, as piores histórias a respeito de seu ex-marido.

Assim começa “A Filha do Palhaço”, com todas essas entrelinhas, e flashbacks possíveis. Mostra a construção de uma relação entre pai e filha, perdida num tempo de desentendimentos.

Uma filha que chega com informações degradantes a respeito de seu pai, vindas de uma fonte única, mas que está disposta a enfrentar qualquer decepção, para entender, e de certa forma, cobrar a dívida adquirida pela sua ausência no decorrer de sua vida.

O pai, Renato (Démick Lopes) é um ator decadente, que se reinventou em uma drag queen humorista, que percorre de bar em bar, em busca de um palquinho onde possa tentar animar os clientes de tais bares. Disputa a atenção com bêbados, risadas, futebol, e todas as adversidades que a noite oferece.

A filha, Joana (Lis Sutter), é uma adolescente como todas as outras da sua idade, com suas vergonhas, medos e tabus, começa acompanhar o pai em suas declinantes aventuras noturnas, caracterizado como Silvanelly.

“A Filha do Palhaço” é um filme sem grandes pretensões. Aposta na dramaturgia e no roteiro, suas melhores moedas. Os atores cumprem suas obrigações de atuar com verdade e contar uma história. Não há uma fotografia esplêndida, nem um cenário de encher os olhos. Mas é uma obra bonita, profunda, e que causa muitas reflexões.

Com direção de Pedro Diogenes, roteiro de Amanda Pontes, Michelline Helena e Pedro Diogenes, com participação especial de Jesuíta Barbosa, compondo o elenco, “A Filha do Palhaço” nos convida a não simplesmente observar de longe, mas abre uma porta, e propõe sentir essa tocante narrativa bem de perto, na própria pele.

por Carlos Marroco – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Embaúba Filmes.