Crítica: Tesouro

Uma história incomum com pai e filha maduros, que embarcam numa viagem às origens e intempéries da família, que não se pode dizer “trágica”, por se tratar de sobreviventes.

Em “Tesouro” (Treasure), Ruth (Lena Dunham), programa uma viagem à Polônia, à cidade de nascimento de seu pai. Enquanto Edek (Stephen Fry) consegue de maneira bem humorada, desvirtuar o roteiro da filha, tirando-a muitas vezes do sério. O pai não quer reviver os horrores do holocausto visitando campos de concentração, casa, cidade, tudo o que abandonaram para sobreviver. A filha quer enfrentar as origens.

É um filme que evolui, que a história prende. E por mais que se trate de um assunto sério, que exige respeito, consegue manter-se leve, sem ser desrespeitoso. O que poderíamos chamar de “Sessão da Tarde”, no melhor sentido do título de programa que virou expressão popular. Podemos nos divertir sem peso na consciência, pois sentimos seriedade nos momentos certos.

Tecnicamente, não há surpresas, a fotografia não impressiona, as interpretações cumprem o seu objetivo. É uma obra para se guardar, sem pretensões, lembrando do quanto é boa, quando passar novamente em alguma sessão à tarde.

Personagens vão se agregando a essa viagem de revelações, que mais parecem mancomunados com o pai de Ruth, para atrapalhar a entrada no túnel do tempo em busca de sua ancestralidade recente, a fim encontrar algo que nem ela sabe direito o que é.

Em vários momentos, conforme a história passa, deduzimos termos encontrado o tesouro do filme nos lugares, nas pessoas, nas histórias, nos objetos, nas relações, etc. E quando é revelado, nos surpreende pela simplicidade. Aí está a grandiosidade: pensamos em tudo, menos no óbvio.

Além do tesouro, há outro segredo na produção. Por que Edek faz de tudo para atrapalhar a viagem precisamente planejada por sua filha Ruth? Este também é mais um típico segredo óbvio, que nos escapa várias vezes até ser revelado. Será que nos falta sensibilidade? Estamos secando, sucumbindo?

Ainda bem que neste mundo caótico em que estamos vivendo, diretores insistem em nos presentear com estas ricas sutilezas.

“Tesouro” tem roteiro de Julia von Heinz (também à frente da direção) e John Quester.

por Carlos Marroco – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela California Filmes.