Crítica: Sorria 2
Um bom filme de terror é aquele que consegue apresentar ao público não apenas situações sobrenaturais ou assassinos perigosos e incomuns, mas também pequenas circunstâncias e medos com os quais todos que assistem se identificam. Sejam em maior ou menor medida – como a solidão e a falta de verdadeiras amizades; vícios e suas consequências; doenças, e machucados corriqueiros, mas ainda assim tenebrosos, como uma pelinha perto da unha da mão se soltando ou pisar em um caco de vidro.
“Sorria 2” (Smile 2) certamente consegue fazer isso, focando em uma personagem, fazendo-a passar não só por acontecimentos sobrenaturais e imprevisíveis, mas também por vários pequenos terrores mundanos, que, somados, podem levar qualquer um a perder a cabeça.
Com um novo elenco e contando uma história inédita, o longa se inicia e se encerra em si mesmo, fazendo com que não seja necessário assistir ao seu antecessor, para conseguir entendê-lo.
Na trama, acompanhamos a cantora pop Skye Riley (Naomi Scott), que após passar por eventos traumáticos a obrigaram a dar uma pausa em sua carreira, está prestes a iniciar uma turnê mundial.
Além de ter que lidar com as consequências de seus erros do passado, Skye ainda tem que suportar toda a pressão da fama, de sua mãe Elizabeth (Rosemarie DeWitt) – que é também sua agente – e dos produtores da turnê mundial. Tudo piora depois que ela testemunha um acontecimento bizarro e começa a passar por situações assustadoras e inexplicáveis, que a fazem questionar sua própria sanidade.
O filme conta com a direção e roteiro de Parker Finn (também à frente do primeiro capítulo da franquia), mas mostra um avanço considerável do diretor. Os planos não convencionais – sejam close ups exagerados, ou planos de ponta cabeça – ajudam a intensificar o clima de desconforto, além de mostrar nos enquadramentos a solidão da protagonista.
Perseguida por episódios aterrorizantes e um sorriso sombrio / perturbador, Skye busca retomar o controle de sua vida – tema também presente em sua carreira como cantora, em que tudo é decidido por sua mãe e seus produtores, de uma forma sufocante.
“Sorria 2” é visualmente bonito, mesclando principalmente a produção da turnê de Skye (cercada de vermelho e luzes neon) e o ambiente escuro e lúgubre de seu apartamento. A performance de Naomi Scott também é muito boa, mostrando uma pessoa que está confusa e em desespero, que tem que fingir estar bem para agradar não só os aqueles que trabalham com ela, mas também para não decepcionar uma legião de fãs.
É impressionante como a atriz consegue fazer com que a Skye do passado (que aparece em flashbacks) e a do presente pareçam pessoas quase totalmente diferentes (contando com a ajuda de cabelo e maquiagem), o que dá força à narrativa da personagem como uma ex –dependente química.
Tanto a trilha sonora de Cristobal Tapia de Veer, quanto o som de modo geral, são bons. ainda que as batidas fortes e som alto em cada jump scare se tornem cansativos. Skye Riley convence como artista pop, e quem reparar nas letras das músicas terá dicas sobre o desfecho da história.
Para manter um ritmo melhor, a obra poderia ser mais curta e ter uns dez ou quinze minutos a menos, mas ainda assim é uma boa experiência de forma geral. Ainda melhor que o título anterior, “Sorria 2” certamente vai agradar os fãs da franquia e os que estão chegando agora.
por Isabella Mendes – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Paramount Pictures.