Crítica: A Substância


“A Substância” (The Substance), escrito e dirigido por Coralie Fargeat, é um filme audacioso que se destaca em um cenário onde poucos conseguem abordar múltiplos temas sociais de maneira tão incisiva. A obra traz à tona a questão do desprezo enfrentado por mulheres acima dos 50 anos na indústria cinematográfica.

A trama gira em torno de Elisabeth Sparkle, vivida de forma magistral por Demi Moore, cuja carreira de atriz premiada entra em declínio após Harvey (Dennis Quaid), o dono do canal televisivo no qual a protagonista tem seu programa matinal, deseja trocá-la por uma mulher muito mais jovem e bela.

Desesperada, Elisabeth busca um programa clandestino chamado “A Substância”, que promete rejuvenescer sua aparência e, por extensão, sua carreira. Essa premissa, que poderia ser simplista, é entrelaçada por uma série de camadas sociais que vão além da superficialidade da vaidade.

Demi Moore entrega uma performance poderosa, uma das melhores de sua carreira, e sua química com Margaret Qualley, que interpreta a jovem concorrente Sue, é palpável. Ambas exploram a complexidade de suas personagens, refletindo a luta entre gerações em uma indústria que valoriza a juventude e beleza acima de tudo.

A direção de Coralie Fargeat é outro ponto alto. Sua abordagem estética, marcada por uma sensibilidade única, consegue capturar as emoções de forma intensa e vibrante. Os enquadramentos e a escolha cuidadosa das técnicas de filmagem elevam a narrativa a um novo patamar, enquanto a sonoplastia complementa a experiência, tornando-a verdadeiramente imersiva.

O longa também se destaca por sua crítica ao machismo e à misoginia que permeiam a sociedade contemporânea. Ao reverter padrões de beleza impostos por uma elite branca e envelhecida, “A Substância” oferece uma mensagem poderosa e necessária às mulheres, desafiando a normatividade de uma indústria frequentemente cruel.

Nos últimos vinte minutos, uma reviravolta provocativa insere um novo elemento ao enredo, criando um ambiente propício para discussões que se estenderão muito além da sessão de cinema. Este não é apenas um filme; é um convite à reflexão sobre a forma como a sociedade trata as mulheres, especialmente à medida que envelhecem.

Em suma, “A Substância” se consolida como uma das melhores produções do ano, não apenas por sua proposta envolvente, mas por seu olhar crítico sobre as dinâmicas sociais atuais. Fargeat e suas atrizes criam uma obra que certamente irá ressoar e provocar debates por muito tempo.

por Artur Francisco – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Imagem Filmes e pela MUBI.