Crítica: Batem à Porta


Diretores de cinema com uma estrada longa costumam ser reconhecidos por alguma peculiaridade em seus trabalhos. No caso de M. Night Shyamalan, sua marca são finais surpreendentes e reviravoltas. Por isso mesmo, é difícil entender o que ele pretendeu com “Batem à Porta” (Knock at the Cabin).

A história é baseada no livro de Paul Tremblay, “O Chalé no Fim do Mundo” (de 2018) e, para quem conhece o a obra, dá para dizer que há muita coisa bem adaptada, e que algumas modificações bem visíveis não chegam a comprometer demais.

Até que o roteiro de Steve Desmond e Michael Sherman e do próprio Shyamalan sai do eixo e altera por completo o texto, deixando um rastro que tenta ser original, mas parece apenas criado para responder perguntas (que não precisavam ser respondidas) e dar um desfecho mais facilmente de ser entendido pelo público em geral – triste fato que tem se tornado recorrente no mundo do entretenimento em geral.

Somos apresentados à família composta por Andrew (Ben Aldridge), Eric (Jonathan Groff), e sua filhinha Wen (Kristen Cui), que vão passar uns dias em uma cabana distante da agitação da cidade grande. Mas, esse distanciamento pode ser um problema para eles, quando quatro estranhos, longe de estarem bem intencionados, batem à porta (literalmente).

Leonard (Dave Bautista) é o líder do quarteto que ainda conta com Sabrina (Nikki Amuka-Bird), Adriane (Abby Quinn) e Redmond (Rupert Grint), pessoas com personalidades distintas, mas com uma crença em comum: a de que será necessário o sacrifício de um dos membros da família de protagonistas para evitar o apocalipse.

Mas, é claro que convencer alguém a sacrificar um ente querido não é das missões mais fáceis (ou pelo menos, não deveria ser) e para cada negativa recebida, um membro desse grupo servirá como exemplo para o “julgamento de parte da humanidade”.

Por mais que lembre uma premissa religiosa, na verdade é bem mais do que isso. Se há elementos que puxam para esse lado, outros provam ser tudo um engodo – o que parece muito com o terreno dominado por Shyamalan. E é por não saber (ou querer em sã consciência) aproveitar essa dualidade, que a narrativa perde força em sua parte final.

O filme é ruim? Não. Mas poderia ser melhor. É como se a opção por não fazer nada tão explícito quanto o imaginado por Paul Tremblay tivesse tirado parte da importância da história que, ainda assim, permanece válida na maior parte do tempo.

Assistir a “Batem à Porta” sem ter muito conhecimento do que o longa propõe pode ser melhor do que ter muitas informações sobre a trama. Ou seja, se você não leu o livro, deve gostar mais do que verá em tela.

por Ana David – especial para CFNotícias

*Título assistido em Sessão Regular de Cinema.