Crítica: Maria – Ninguém sabe quem sou eu


Chega às salas de cinema o filme da vida de um dos maiores nomes da música popular brasileira. Com direção de Carlos Jardim, “Maria – Ninguém sabe quem sou eu” é um documentário inédito da vida e obra de Maria Bethânia.

Mesclando entre imagens inéditas de bastidores e apresentações da intérprete, relatos de sua infância em Santo Amaro-BA, além de depoimentos de grandes nomes da cultura brasileira, a obra narra as inspirações e as paixões que fazem a artista ser única e considerada “Rainha da MPB,” – também chamada de “Abelha Rainha.”

No decorrer de 100 minutos de documentário, Bethânia responde uma série de perguntas que explicam a sua forma de ser, pensar e agir. A cantora é sempre um mistério indecifrável, sempre há algo subentendido nas entrelinhas de suas falas.

A produção também aborda a sagrada relação da cantora com o palco. Quem acompanha sabe que entre suas muitas peculiaridades, ela só sobe no palco descalça e utiliza apenas microfone com fio – mesmo após tanta modernidade em relação aos novos aparelhos.

Bethânia também conta um pouco da sua discreta vida pessoal, além de abordar um pouco sobre suas crenças, seu amor por Nossa Senhora, a forte conexão com a poesia, e ainda cita sua ligação com os Orixás do Candomblé.

No mesmo viés da religião, cita a importância de Mãe Menininha do Gantois, importante Ialorixá do candomblé no Brasil, pela qual a cantora e diversos outros artistas, como Gal Costa e Caetano Veloso, eram orientados.  Bethânia, inclusive, tem uma oração a Mãe Menininha gravada em alguns de seus principais álbuns, oração essa composta por Dorival Caymmi.

Aos 76 anos de idade e muitas vezes criticada pela aparência, relata que não mexe nos cabelos ou faz intervenções estéticas, pois o tempo é seu aliado. Explica que não basta só saber que o tempo passou, tem que sentir e ver os efeitos do tempo em si própria, assim como ela também tem deixado sua marca no tempo, oriunda dos seus 57 anos de carreira. É como se o corpo fosse um templo no qual cada detalhe tem um propósito decifrável ou não.

No geral, a narrativa inteira é Maria Bethânia explicando ao público quem e como ela é. A atriz Fernanda Montenegro narra cinco textos de Ferreira Gullar e Caio Fernando Abreu, que sintetizam em parte a essência da artista e sua importância no cenário cultural brasileiro.

Todavia, e como o próprio título indica, em “Maria – Ninguém sabe quem sou eu”, a síntese maior é explicada pela própria Bethânia, afinal seria difícil qualquer outra pessoa explicar aos espectadores e amantes da MPB, uma cantora tão emblemática,  com tanta singularidade mas sem deixar de ser plural.

por Leandro Conceição

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.