Crítica: O Chef


Um cenário catastrófico típico de uma cozinha movimentada, com alta demanda de pedidos, falta de ingredientes, pouca valorização profissional e falta de empatia dos chefes. É através dessa narrativa que “O Chef” (Boiling Point) se desenvolve.

Estrelado por Stephen Graham, a produção é uma obra gravada em plano sequência,  ou seja, nem a câmera nem o público tiram o olho da ação, pois cada segundo é crucial para entender a narrativa. A premissa é mostrar a noite em um renomado restaurante, com todos os conflitos que não chegam (ou não deviam chegar) aos clientes.

Os problemas já começam com o Chef Andy, que chega atrasado e trata os ajudantes de forma hostil, sendo que eles já adiantaram dentro do possível, todo o mise en place – alguns funcionários são novos, porém dedicados a aprenderem.

Andy está cheio de problemas pessoais e, por exaustão física, unida à falta de profissionalismo, acaba trazendo suas mazelas para o ambiente de trabalho, afetando os demais companheiros,  sendo que cada um deles também está enfrentando dificuldades em alguma área da vida. A única unanimidade é que todos estão exaustos da difícil rotina de servir glamour, mesmo sendo tratados como lixo.

O drama narra muito bem os bastidores do glamouroso mundo da alta gastronomia, onde quase sempre por trás de pratos bem apresentados, ambientes agradáveis de baixa iluminação e sorrisos gentis no atendimento,  há pessoas tristes e sem o devido reconhecimento pelo belo trabalho desenvolvido.

Trabalhar em restaurante é realizar sonhos alheios enquanto os seus são engavetados. E devido à rotina puxada, esquecer vida familiar, reuniões, aniversários e almoços de domingo. Mas porque abrir mão de tudo isso pra dedicar-se a algo que não traz felicidade e /ou realização profissional? A resposta é simples: necessidade.

Logicamente há algumas exceções sobre esse cenário relatado acima, mas não é a regra.  O filme dirigido por Philip Barantini consegue transmitir ao público toda a oscilação de emoções entre a encenação feita no salão de atendimento, o clima literalmente quente da cozinha, e o desespero do banheiro onde os funcionários choram pra não explodir com os chefs ou por piadas desagradáveis de clientes.

“O Chef” é um título gravado em plano sequência, que realmente convence:  não tem aqueles cortes que são notados por quem assiste, a impressão é que de estarmos assistindo a um reality show gastronômico ao vivo.

por Leandro Conceição

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.