Crítica: O Homem do Norte

Mais novo trabalho do aclamado diretor Robert Eggers, “O Homem do Norte” (The Northman) traz às telas uma história épica de vingança, passada em um passado fantástico e mítico nórdico.

Na obra acompanhamos o quão longe um jovem pode ir para vingar o assassinato de seu pai.  A trama acompanha a vida do príncipe Amleth (interpretado por Oscar Novak, quando criança, e por Alexander Skarsgård, quando adulto), e sua jornada de vingança depois que seu tio Fjölnir (Claes Bang) para usurpar o trono, assassina seu pai, o Rei Aurvandil (Ethan Hawke) e sequestra sua mãe, a rainha Gudrún (Nicole Kidman).

O filme mostra o já característico cuidado histórico que Eggers tem em contar suas histórias, misturando acuidade histórica com os mitos, lendas e costumes religiosos da época apresentada. Depois de contar uma trama baseada em um escrito sobre bruxaria do século 17, nos Estados Unidos, em “A Bruxa”, e de dar vida a uma macabra obra, baseada em histórias de marinheiros e pescadores da Nova Inglaterra no século 19 em “O Farol”, Eggers torna sua atenção ao século 9 e aos contos e mitos nórdicos em “O Homem do Norte” em parceria com o escritor islandês Sjón.

Com um roteiro que faz alusão aos clássicos cantos épicos – narrativas em versos ou prosa, que contam uma ação heroica do passado, ou grandes acontecimentos históricos – o longa, assim como os últimos dois trabalhos do diretor, pode não ser muito palatável para o grande público, por justamente se distanciar das narrativas de ação mais comuns de Hollywood – que retratam vikings geralmente recheados de exageros e erros históricos -, e se debruça em uma obra, quase que onírica, que mistura uma ampla pesquisa, tanto histórica quanto mitológica da cultura nórdica.

O protagonista não visa salvar o mundo, ou mesmo retomar seu reinado por direito, mas simplesmente vingar o assassinato de seu pai e salvar sua mãe, deixando qualquer outra ambição e projeto de vida de lado.

A obra é recheada de coisas fantásticas como oráculos, bruxas e Valquírias, ao mesmo tempo que não se acanha em retratar rituais estranhos ao público moderno ocidental, mas baseados no que se sabe sobre os povos nórdicos. Também faz uma clara referência a clássicos como o poema épico “Beowulf”, a tragédia shakespeariana “Hamlet”, ou a mais conhecida de suas versões, “O Rei Leão”.

Com um grande elenco como Anya Taylor-Joy, Willem Dafoe e Björk, “O Homem do Norte” conta com uma belíssima fotografia e cenários bem construídos, além de uma linda produção de arte. O ritmo e a forma como os fatos se desenrolam em tela podem ser um problema para alguns, mas a escolha, além de ousada e subversiva, faz uma clara alusão às narrativas épicas e casa muito bem com a história que Eggers e Sjón se propõem a contar, misturando sanguinolência e poesia, sem deixar de lado a beleza visual e o poder de fazer o público refletir.

por Isabella Mendes – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.