Crítica: O Peso do Passado


“O Peso do Passado” (Destroyer) é o mais novo filme estrelado por Nicole Kidman, e dirigido por Karyn Kusama. Também estão na produção Sebastian Stan e Toby Kebbell. Anos atrás a detetive Erin Bell (Kidman) fez parte de uma missão falha de infiltração em uma gangue de Los Angeles, e agora, após um evento fatídico, se vê obrigada a retomar o contato com seus antigos alvos, e perseguir o líder de tal grupo, Silas (Bell).

Karin Kusama não é estranha a dirigir filmes com mulheres fortes, tendo dirigido títulos como “Aeon Flux” e “Garota Infernal”. De longe, “O Peso do Passado” é muito mais interessante que ambos, explorando a decadência mental e física da protagonista. Para isto o roteiro, escrito por Phil Hay e Matt Manfredi – dois colaboradores de longa data da diretora –, traz uma narrativa estranha a um thriller protagonizado por mulheres, carregando grandes influências do Noir, sendo que na maioria dos filmes deste gênero os protagonistas são homens.

Para isto é importante que a atuação acompanhe o roteiro e Nicole Kidman o faz, de maneira surpreendente. Completamente diferente da maioria de seus papéis anteriores, Erin Bell é uma personagem acabada, destruída pelo tempo, e cansada de sua vida. Até mesmo sua aparência é maquiada para assim refletir. O papel não está só convincente, como realista, ainda que em certos momentos exagerado – apesar da história posteriormente justificar, devido à estrutura do filme, fica-se com essa impressão.

A cenografia e a iluminação estão muito bem conduzidas, não só reforçando a narrativa, mas visualmente bonitas, dividindo de maneira interessante o passado, com cores mais escuras, e o presente, com cores claras e esbranquiçadas. A trilha sonora igualmente bem conduzida se baseia principalmente nas cordas com técnicas expandidas, efeitos digitais, e percussão, tornando o suspense e tensão constantes.

Infelizmente algumas falhas ainda contam na produção. Alguns diálogos poderiam ser mais bem trabalhados, assim como algumas partes da trama. Porém é na parte da maquiagem que está o principal revés. A maquiagem de Nicole Kidman como a protagonista mais velha não está convincente, parece artificial. Por sua vez quando um pouco mais jovem, o problema está com sua peruca, que não parece ser cabelo natural e sim apenas um recurso artificial.

Por fim, “O Peso do Passado” é um bom filme, com uma trama envolvente e interessante, ainda que tenha alguns pequenos problemas, além de oferecer uma visão já diferenciada por colocar uma mulher num papel comumente construído para homens. E também vale para ver Nicole Kidman fora de seu lugar comum de atuação.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias